O pequeno vulto


Marcelly sempre seguiu os conselhos que seu pai lhe dava quando criança, até que em uma noite fria de segunda-feira ela deixou passar um dos conselhos mais importantes: “Sempre confie nos seus olhos”.
Estava se enrolando na toalha depois de um refrescante banho quando viu um pequeno vulto passando em direção a seu quarto. Coisa rápida, um vulto tão pequeno que poderia ser uma criança com não mais de dois anos de idade. Ignorou, rindo de como a mente humana leva o individuo a ver coisas. Foi até o quarto, já tinha a roupa que usaria separada em cima da cama. Entrou, derramando gotas de água do seu corpo por todo o chão, não teve ao menos a chance de acender as luzes, sentiu algo agarrar-lhe a perna fazendo-a cair de costas no chão. Algo quente passou rapidamente por sua barriga, seguido por muita dor. Gritou por socorro o mais alto que pôde, a ponto de acordar a vizinha do andar de cima que desorientada ligava para a polícia. Rastejou para fora do quarto escuro e pôde ver o semblante do seu agressor aparecer.
Quando a policia chegou ao apartamento de Marcelly, a porta estava totalmente aberta, no quarto, o corpo da vítima totalmente esquartejado e irreconhecível. Braços jogados para um lado, pernas para outro. Nenhum sinal da cabeça da moça. Do quarto até a sala pequenas pegadas sujas de sangue. O agressor nunca foi encontrado pela policia, nem a cabeça.

FIM

O quadro

O vermelho, o azul e o amarelo se misturavam nas mãos da pintora, e antes mesmo que ela percebesse, já estava pronta a sua obra, o ultimo quadro que pintaria em toda sua vida: Chamas em Nova York.
Pendurou o quadro na parede do hotel em que se encontrava. Acendeu seu ultimo cigarro e petrificou os olhos enrugados no quadro. Lembrou do primeiro quadro que pintara em uma adolescência fodida a setenta e cinco anos atrás e de como tinha o desejo de ser alguém na vida. Perdeu-se naqueles pensamentos, deixou o cigarro cair, não se importou, sabia que aquilo já estava predestinado, chorou, arrependendo-se de tudo que fizera.
O tapete começou a pegar fogo, o fogo era de um azul vibrante, ela não se importou. Seu nome era conhecido mundialmente graças a um pacto que fizera anos atrás onde a juventude lhe dava ambições. Hoje pagaria seu preço.
O fogo se tornou mais forte e a chamou. Ela caminhou até ele, sem precisar mais de sua bengala, não sentiu dor. O alarme de incêndio começou a tocar. Pessoas começaram a correr nos corredores, água começou a cair do teto. Aquela água não apagaria aquele fogo, não antes dele levar o que havia vindo buscar.
Não demorou muito para o corpo de bombeiros chegar, invadiram o quarto, apagaram toda a chama, mesmo sendo tarde demais para salvar a velha artista.
O quarto ficou todo queimado, todo destruído, com exceção de uma parede que ficara intacta, junto com um quadro. O ultimo quadro daquela artista.
FIM